Setor considera insuficientes ações contra importações de aço, que seguem em alta
Após três meses da imposição de cotas e aumento de tarifas por parte do governo federal para limitar a entrada do aço importado no País, a eficácia das medidas é considerada insuficiente pelo Instituto Nacional dos Distribuidores de Aços Planos (Inda). Isso porque as importações, mesmo passados 90 dias desde as restrições, continuam em alta e não devem cair até o final do ano.
Dados apresentados nesta quinta-feira (19) pelo Inda mostram que as importações encerraram o mês de agosto com alta de 31,3% em relação ao mês anterior, com volume total de 287,9 mil toneladas contra 219,2 mil em julho. Se comparado ao mesmo mês do ano passado, as importações também registraram alta, neste caso, de 24,7%.
“A eficácia dessas medidas tem sido muito pequena, alguma coisa segurou, mas abriu espaço para as empresas importarem materiais com NCM’s (nomenclaturas comuns do Mercosul) liberadas”, afirmou o presidente do Inda, Carlos Loureiro.
De acordo com as restrições determinadas pela Câmara de Comércio Exterior (Camex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Mdic), a medida que começou a valer em junho deste ano – e valerá por 12 meses – afetou 11 produtos e deixou outros quatro sendo monitorados com a possibilidade de receber o mesmo tratamento.
Entretanto, como o presidente do Inda apresentou, para fugir das limitações impostas pelas cotas, alguns importadores passam a trazer o material com o boro, um elemento químico que está fora do controle.
“Se você pegar os materiais zincados, que são produtos que as cotas já foram esgotadas, o material com boro que entrou no País de janeiro a agosto já é 63,7% maior que todo o volume trazido em 2023”, diz Loureiro.
Para ele, esse aumento de importação mostra que a tendência é aumentar ainda mais. “Provavelmente veremos no fim do ano este número mais que dobrar em relação ao ano passado”, analisa.
Loureiro lembra ainda que há uma promessa do governo federal de que se isso começasse a acontecer, ou seja, um aumento do material ligado acima do normal, eles iriam interferir. “É uma questão para acompanhar”, afirmou o presidente do Inda. É chamado de material ligado o conjunto de elementos que são adicionados à liga de ferro.
Ainda na avaliação do presidente do Inda, as importações não devem cair em 2024. “Na melhor das hipóteses, manterá o volume do ano passado. Por mais baixas que sejam as importações em outubro, novembro e dezembro, não serão suficientes para contrabalançar os aumentos que houveram nos outros oito meses”, diz.
O alto índice das importações também é o principal fator que fará com que os preços do aço praticados pelas usinas nacionais não sofram alterações.
“Só a CSN havia manifestado a intenção de aumentar os valores, mas acabou não aumentando. As outras usinas não se manifestaram, então, os preços não devem aumentar”, explica.
Vendas de aço registram alta de 2,9% no acumulado do ano
A alta das importações não prejudicou o crescimento do mercado nacional. As vendas de aços planos em agosto contabilizaram alta de 4,3% quando comparada a julho, atingindo o montante de 350,1 mil toneladas contra 335,7 mil, e ficando acima do volume esperado.
No acumulado do ano, a alta com relação ao mesmo período do ano passado é de 2,9%, o que na avaliação do presidente do Inda é um resultado positivo.
“Apesar de não registrarmos um crescimento igual ao do consumo aparente (8,3%), o mercado está bem em termos de volume. A rede continua muito sólida com bons números financeiros, porém, com resultados muito fracos. Esperamos melhorar no decorrer do final de ano”, avalia.
As vendas diárias atingiram 16,2 mil toneladas, o segundo maior resultado no histórico das vendas diárias do mês de agosto, desde 2015. O oitavo mês do ano de 2024 só perde para o ano de 2020, quando houve a retomada das negociações no pós-pandemia.
“A indústria cresceu e temos alguns setores consumidores de aço que estão desempenhando muito bem como o setor automotivo e o de eletrodomésticos, que nesse caso têm registrado crescimento acima de 15%”, avalia Loureiro.