Queda de 9% da produção chinesa em julho foi mais acentuada do que o esperado, diz analista
As siderúrgicas chinesas cortaram a produção de aço em julho, numa reação à fraca demanda pela commodity. A redução foi de 9% tanto na comparação com junho como na base anual. De acordo com dados divulgados na quinta-feira (15) pelo departamento de estatísticas da China, saíram dos altos-fornos no mês passado apenas 82,9 milhões de toneladas, a mais fraca marca deste ano.
"A produção geralmente cai no verão [setentrional], mas a queda de julho foi mais acentuada do que o esperado", disse Xu Xiangchun, analista da Mysteel Global, que espera mais cortes neste mês. “O ânimo do mercado está realmente retraído”, disse. A produção total dos sete primeiros meses atingiu 613,7 milhões de toneladas - um recuo de 2,2% em relação ao ritmo de 2023.
O pessimismo é compartilhado pelo maior produtor de aço do mundo, que soou o alarme sobre uma crise na China que tem o potencial de provocar ondas de choque em todo o mundo e alertou para uma desaceleração mais profunda do setor do que os grandes traumas de 2008 e 2015. O presidente do grupo China Baowu Steel, Hu Wangming, disse a seus funcionários na reunião semestral da empresa que as condições no país asiático são como um “inverno rigoroso”, que será “mais longo, mais frio e mais difícil de suportar do que esperávamos”.
Os investidores internacionais estão focados nas dificuldades da economia da China, embora também cogitem a possibilidade de uma recessão nos Estados Unidos, em que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) caminha para cortes nas taxas de juro. No caso das commodities, que incluem o aço, o alerta do Baowu ressalta os riscos para a demanda e os preços, assim como para o que a ArcelorMittal, a segunda maior empresa do setor, chamou de um aumento “agressivo” das exportações da China.
O mercado de aço da China - que é de longe o maior do mundo - tem emitido muitos sinais de alerta, enquanto a retração prolongada do setor imobiliário local não dá indicações de terminar e a atividade fabril se mantém contida. O Baowu sozinho produz cerca de 7% do aço do mundo, e seus comentários são acompanhados com atenção para medir o clima do mercado no país asiático.
A dura mensagem de Hu provavelmente será uma preocupação para rivais por toda a Ásia, a Europa e a América do Norte, enquanto eles lidam com uma nova onda de exportações chinesas, muitas vezes pressionando pela adoção de medidas comerciais. As remessas da China estão no rumo de chegar a cerca de 100 milhões de toneladas este ano, o maior volume desde 2016, enquanto os produtores locais lutam para compensar a desaceleração interna.
No início do mês, a ArcelorMittal informou que o aumento das exportações da China deixou o mercado mundial em condição “insustentável”.
A gigante siderúrgica alemã ThyssenKrupp ressaltou os desafios do setor na quarta-feira (14), ao registrar uma grande queda nos ganhos. Os novos pedidos da companhia recuaram quase 11% no segundo trimestre deste ano, e a siderúrgica informou que a fraca demanda que está pressionando as vendas deverá continuar enquanto clientes dos setores automotivo, de máquinas e de construção perdem impulso. A empresa já reduziu suas perspectivas para o ano três vezes nos últimos meses.
Os departamentos financeiros devem prestar mais atenção à segurança do custeio da empresa”
— Baowu Steel
A ThyssenKrupp, com prejuízo líquido de € 33 milhões (R$ 198,23 milhões) no último trimestre, avalia que o mercado não deve se estabilizar no curto prazo devido à demanda persistentemente fraca e aos altos custos de energia e planeja cortar 400 vagas em uma unidade de produção na Alemanha. Em abril, a companhia anunciou que planeja reduzir a sua capacidade de produção em cerca de 20%, o que também deve incluir demissões de parte de seus 26 mil empregados naquele país.
Outras companhias do setor também estão fazendo ajustes. A alemã Kloeckner avança em seus planos de cortar 10% de sua força de trabalho na Europa. Segundo a agência Reuters, na quinta-feira (15), o governo britânico decidiu destinar 13,5 milhões de libras (R$ 94,6 milhões) para ajudar trabalhadores da Tata Steel, que havia anunciado a demissão de 2.800 funcionários e o fechamento de fornos em suas operações no Reino Unido.
Os futuros de minério de ferro em Cingapura caíram até 3,4%, para US$ 95,20 (R$ 520) por tonelada, o menor nível desde maio do ano passado. A debandada nos mercados de aço foi ainda mais acentuada: em Xangai, os futuros de vergalhão caíram mais de 4%, para o nível mais barato desde 2017. A BHP, que obtém grande parte de suas receitas com a venda de minério de ferro para a China, teve uma queda de quase 3%.
O setor siderúrgico chinês sofreu quedas devastadoras durante a crise financeira mundial de 2008 e 2009 e de novo no período de 2015 a 2016. Nos dois casos, as crises só foram resolvidas por estímulos maciços - uma perspectiva que parece mais remota em 2024, já que o presidente Xi Jinping tenta reformular a economia.
O Baowu não ofereceu muito em termos de apontar as causas da retração atual, e preferiu se concentrar em como os funcionários devem responder a ela: preservando dinheiro e minimizando riscos.
“Os departamentos financeiros em todos os níveis devem prestar mais atenção à segurança do custeio da empresa”, explica o comunicado do grupo, que aponta a necessidade de fortalecer controles, inclusive sobre pagamentos em atraso e detecção de negociações falsas. “No processo de atravessar o longo e rigoroso inverno, o dinheiro é mais importante do que o lucro.”
Enquanto as usinas passam por dificuldades, os estoques de minério de ferro aumentam, ao mesmo tempo em que as barras de reforço, usadas na construção civil, estão mais baratas do que em qualquer outro momento desde 2017. Fabricar aço é cada vez menos lucrativo, o que põe as siderúrgicas sob pressão para cortar a produção. Enquanto isso, as exportações devem ultrapassar as 100 milhões de toneladas, o maior número desde 2016.
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